quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sem cor nem vida


Estavam todos lá, parecendo mortos em vida. O ambiente era tomado por uma grande massa disforme de sons, formada pelas mais variadas vozes que falavam sem parar e ao mesmo tempo. O cheiro da cerveja se confundia às vezes com a fumaça dos vários cigarros e as pessoas pareciam desnorteadas e sem cor.
Algumas se reparavam pelos cantos dos olhos e cochichavam, outras falavam alto e gesticulavam. Um rapaz ao canto, ávido por olhares, tocava com força seu violão e competia com aquela barulheira. Todos empunhavam seus copos e bebiam, bebiam como se aquilo fosse o combustível daquele momento.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O fim da jornada

Trecho do fim da pedalada ao Rio de Janeiro:

O ônibus passa devagar pelas pontes e viadutos. Avisto os topos das casas antigas
já amarronzadas pelo tempo e dentro delas as pessoas, que se escondem do calor e do tempo, olhando pela janela o concreto a ferver sob o sol.
Os verdes morros vão se tornando quadriculados e tomam a cor de barro, exibindo linhas negras que, espontâneas, se cruzam para todos os lados.
Enquanto uns moleques sorridentes soltam pipas, outros correm agitados pelas passagens estreitas.
Cheguei lá eram umas 14:00, depois de cruzar a linda serra de Miguel Pereira, marcada de curvas estreitas entre precipícios e grandes morros.
Saindo da rodoviária da capital, logo vou atrás de um almoço. Vejo uma moça negra e alta que vende cervejas e lhe pergunto onde arrumo um almoço barato.
- Barato quanto
?
- De preferência até uns 5 reais.

Ela me indica um treiler. Chego lá morrendo de fome e negocio um bom prato de arroz, umas poucas colheradas de feijão, alface, tomates e cebola por 4 reais.
Sentado a rangar, uns sujeitos logo me advertem: O negócio é se mandar daqui. Carnaval é muita covardia, a cidade vira um inferno.
Barbudo, vestindo os trapos já surrados pela estrada e carregando a velha bicicleta cheia de malas - lhes chamo a atenção e logo me perguntam sobre a aventura. Conto-lhes das experiências com o povo brasileiro, das pedaladas pelas serras e ambos sorriem, olham um ao outro e perguntam:
- E a família
? Filho, essas coisas, não tem ?
- Ah não, a família ficou lá em Curitiba.
- E você é feliz
? Se é feliz então tá ótimo. Nada nessa vida é escolha, tá tudo escrito rapaz. Da hora em que nasce à hora que morre!

Cumprimento os amigos, pago o almoço e, desejendo um dia desbravar essa cidade maravilhosa, volto à rodoviária pra pegar o ônibus de volta pra casa. Missão cumprida.

PS: Em breve o post será ilustrado com uma foto da viagem, ou não. :)